quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Um país um tanto quanto sorridente

Um tanto quanto engraçado esse país em que vivemos: Político sobe o morro pra inaugurar campo de futebol com iluminação. Fala bonito, diz que é pra afastar as crianças do tráfico. A mãe que ontem chorava a morte do filho mais velho hoje aplaude o caridoso representante do estado e o agradece por contribuir para com o futuro do caçula. Pobre senhora, não sabe que a morte do seu filho traficante foi só a ponta do iceberg: Morreu porque alguém precisou manter as aparências. Não porque queriam acabar com o tráfico ou porque ele estava do lado errado quando a "operação pela pacificação das favelas" começou. Talvez do lado errado ele realmente estivesse. No entanto, todos nós estamos: o lado que paga o preço. Quando os homens de poder compram a guerra, quem paga o preço é quem não tem dinheiro.
Sempre chegamos no dinheiro. É considerado por muitos um assunto chato até que se entenda que ao tratarmos de dinheiro podemos explicar muita coisa. É impossível tratar por exemplo da legalização sem tratarmos também dos interesses políticos que estão em grande parte, relacionados à quantidade de reais em jogo. À senhora que perdeu seu filho no morro, esqueceram de informar que a morte do rapaz é mais uma evidência de que o tráfico está longe de acabar pois a legalização - forma mais eficaz o diminuir significantemente - não será apoiada por quem de fato dá as ordens e está por sua vez, bem distante da favela.
Esqueceram também de informar aos familiares do jovem morto, que agora vibram com a inauguração da nova quadra, que a preocupação de quem liberou a verba para tal obra está longe de ser o futuro e desenvolvimento das crianças da comunidade, mas sim a intensificação da não-capacidade dos cidadãos ali presentes de conhecer seus direitos e cobrar dos políticos o cumprimento de seus deveres. O sorriso dos homens de terno e gravata fazem as Marias e os Josés pensarem que todos ali compartilham da mesma alegria, sem nem perceberem que as informações que chegam até suas casas foram cuidadosamente manipuladas de forma que o verdadeiro motivo do sorriso dos "grandes homens" seja encoberto.
Me parece também que não se lembraram de avisar à humilde população (por um instante) sorridente, que lá fora, quem de fato luta para acabar com o tráfico é anunciado ao mundo como bandido. Não lhes explicaram que não são os políticos, os grandes empresários e nem as mídias sociais as grandes aliadas da população e sim, ela mesma: a população EM SI. E é esse o preço da ignorância: Na favela a mãe perde o filho, nos grandes centros urbanos o grower é tachado traficante e o maconheiro, visto como marginal.

0 comentários:

Postar um comentário