quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um grupo, não um ideal

Dia 7 de setembro marcado não só pela comemoração da independência mas também pela marcha contra a corrupção que será sem dúvidas, um marco para o país. No entanto, o espaço da mídia é algo que ainda resta ser conquistado. Dentre diversas reportagens tratando do assunto, a que encontrei na Carta Capital foi a que mais me agradou:

"[...] Em sintonia com movimentos organizados em outros locais do país, o protesto reuniu manifestantes de todos os tipos, das indignações mais específicas (pela PEC 300, que cria um piso salarial para policiais, contra o projeto da Nova Luz e até contra desapropriações no Jabaquara) até as mais generalistas. Às 9h, o primeiro grupo já se reunia no vão livre do Masp, onde se concentravam os “Caras Pintadas”, em referência ao movimento que participou do processo de impeachment de Fernando Collor em 1992. Em seu ápice, reuniram 800 pessoas.

Por falta de autorização da CET, a caminhada pela avenida teve que ser interrompida. O que não frustrou os organizadores. “O que eu queria, consegui”, disse Felipe Mello, um dos organizadores. “Foi um pontapé inicial”, afirma ele, deixando claro que era organizador, e não “liderança”. Isso porque o movimento não tem líderes e é apartidário, disperso em várias frentes, conforme definiu. “Tem que espalhar, não tem que concentrar”.

“A manifestação não tem definição política, não tem um partido que seja acima do bem e do mal. É contra a corrupção”, afirma Saulo Resende, 28 anos.

Sarney, Jaqueline Roriz, Ficha Limpa são os nomes que circulam entre as frases de protesto. À primeira vista, não há causas a serem abraçadas, como fizeram os espanhóis em 15 de maio, na Porta do Sol, em Madri, quando se reuniram em protesto contra as medidas de austeridade do governo José Luis Zapatero – e o desemprego e as condições de trabalho da juventude. Na Paulista, a principal meta era criar uma “cultura da manifestação”, um modo apolítico de se fazer política.

Além do “Caras Pintadas”, outros grupos se organizaram pela internet para marchar contra a corrupção no Dia da Independência. O Anonymous, por exemplo, marcou sua marcha para as 14h. Aos poucos, anônimos e cobertos pela máscara do personagem do filme “V de Vingança”, os manifestantes se uniram aos pintados para a rodada vespertina de protestos. O grupo tornou-se famoso depois que hackers ligados a eles atacaram sites do governo há alguns meses.


No megafone, as mais variadas falas. Um professor reivindicando mais verbas para a educação alternava-se com o clássico “O povo unido jamais será vencido”. Em meio à multidão, alguns militantes do PSDB infiltrados geraram polêmica. Isso porque o apartidarimo é um dos pilares de toda a movimentação. Ao iniciar a panfletagem, os tucanos causaram uma indignação geral que poderia ter acabado em violência se não tivessem ido embora rapidamente. Fernando Delpozzo, do movimento “Dia do Basta” que compõe o mosaico de grupos, afirmou que nenhum partido se infiltraria enquanto ele estivesse lá. Mesmo depois de rechaçados, a assessoria de imprensa do partido divulgou nota anunciando que sua juventude estava mobilizada contra a corrupção, mas lá na zona norte de cidade.


“É importante não falarmos groselha para a mídia”, afirmou um dos mascarados durante uma breve reunião para definir a atuação. As máscaras servem justamente para a anulação das identidades. Com o lema de que “somos um grupo e não um ideal” e cansados dos protestos apenas via internet, o Anonymous resolveu partir para a rua. Participaram do manifesto contra a usina hidrelétrica de Belo Monte em julho. Mas é a primeira vez que encabeçam um processo. Dois amigos-anônimos de 15 anos contam que não sabem exatamente o que o movimento trará de mudanças. Mas que a influência grega e de outros países onde mobilizações começaram a surgir, como Espanha e Egito, fez com que eles próprios pensassem em uma atuação política. “A causa é contra corrupção. As pessoas são conformadas”, afirmam.

Inseridos no caldo de protestos que ocuparam a Paulista, alguns militantes “veteranos” de protestos de rua também se juntavam aos estreantes. A união era expressa nos mais variados dizeres em faixas e até mesmo estilos – anarcopunks, peruas, crianças, adolescentes, nerds, idosos e ciclistas. Todos expressavam algum tipo de indignação generalizada, um mal estar ainda não canalizado em propostas concretas.

No feriado, foi uma alternativa de programação. Rebeca Ribeiro, por exemplo, veio almoçar na região com seu pai e acabou aderindo à marcha. “Já tínhamos visto antes no Facebook”, diz. A família acredita que a mobilização em massa gerará o combate às práticas ilegais na política. E Maisa Alves trouxe sua amiga recém-chegada da Colômbia para participar do manifesto. “Na Colômbia, as pessoas são mais violentas. Aqui todo mundo é pacífico”, comenta a colombiana Yerly Camacho.

No emaranhado de visões, a marcha talvez sinalize que esta talvez seja a tendência da mobilização popular a partir de agora: sem lideranças formais, sem interferência de partidos e entidades sindicais, mas com causas indefinidas e um apanhado ideias de todo tipo. Pode ser confuso. Mas Não deixa de ser um recado aos mandatários da nação.

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