Em
artigo publicado no The New York Times intitulado ‘O apelo de um juiz
pelo baseado’ (tradução livre de ‘A judge’s plea for pot’), Reichbach
escreveu: “Eu não previa que depois de ter me dedicado às leis durante
40 anos da minha vida, inclusive mais de duas décadas para o estado de
Nova York, minha batalha pela cura e cuidados paliativos me conduzissem à
maconha”.
Quando o juiz americano do estado de Nova York
Gustin Reichbach, de 65 anos, descobriu que tinha um câncer no pâncreas
em estágio terminal, há três anos e meio, não foi a primeira vez que a
dor e o sofrimento bateram à sua porta. Anos antes, ele já havia tido
contato com a guerra, quando trabalhou em uma missão das Nações Unidas
no Kosovo, disputado território da península balcânica, na Europa.
Porém, só com a notícia do câncer Reichbach sentiu a
dor e o sofrimento tão próximos: “Disseram que eu morreria em, no
máximo, seis meses”, recorda.
Ainda vivo, o magistrado faz parte do
raro leque de pessoas que conseguem sobreviver tanto tempo com a doença e
causou surpresa ao afirmar, na quarta-feira, em um dos jornais mais
importantes do mundo, que a maconha tem uma importante participação na
sua superação.
Em artigo publicado no The New York Times intitulado
‘O apelo de um juiz pelo baseado’ (tradução livre de ‘A judge’s plea
for pot’), Reichbach escreveu: “Eu não previa que depois de ter me
dedicado às leis durante 40 anos da minha vida, inclusive mais de duas
décadas para o estado de Nova York, minha batalha pela cura e cuidados
paliativos me conduzissem à maconha”.
Dores
O magistrado americano aproveitou a
voz para fazer um apelo ao governador e aos deputados do estado de Nova
York para que aprovem uma lei, em trâmite na Assembleia Legislativa,
legitimando o uso medicinal da maconha. Segundo Reichbach conta, amigos
dele têm se arriscado para comprar a droga ilegalmente, depois de terem
assistido à sua agonia e sofrimento.
O juiz assegura que a maconha tem funcionado como um
medicamento complementar que ajuda a minimizar os efeitos dos remédios
para reduzir a dor, que levam à diminuição do apetite. Além disso, a
substância o estaria ajudando a reduzir as náuseas e a melhorar a
qualidade do sono, afetada pelas dores constantes e medicamentos.
“Fumar a maconha diretamente é o único remédio que
faz a náusea dar uma trégua, estimula o apetite e me faz cair no sono
mais facilmente. O sintético oral substituto, Marinol, receitado pelos
meus médicos, foi inútil”, escreveu Reichbach no artigo.
Alívio
Segundo o psiquiatra Luiz Fernando
Pedroso, do Espaço Holos Psiquiatria Integrada, o uso medicinal da
maconha em pacientes com câncer terminal já é testado e praticado em
vários lugares do mundo. “A medicina não deve ter preconceitos de cunho
moral, deve pensar sobretudo no bem-estar do paciente. Tudo aquilo que
alivia a dor e o sofrimento é válido. Já vi relatos positivos de
pacientes terminais sobre o uso da maconha”, afirmou.
Enquanto no Brasil a maconha é ilegal e seu uso
medicinal não é permitido, nos Estados Unidos 16 estados já permitem o
uso clínico da substância, entre eles Nova Jérsei, que fica ao lado de
Nova York, e Connecticut.
De acordo com Pedroso, pesquisas já comprovaram que é
baixa a incidência de dependência química entre usuários da maconha.
“Gira em torno de 3%, enquanto esse número é de aproximadamente 10% em
usuários de álcool”, revela. Ele acredita que o uso da droga deve ser
debatido no âmbito da saúde mental e sair do âmbito policialesco. “O uso
da droga, a princípio, não faz nem bem, nem mal. O que causa problemas é
a dose. A dose é a diferença entre remédio e veneno”, disse.
Ele reconheceu, porém, que em doses muito altas, o
uso da maconha produz alterações físicas no cérebro, perdas cognitivas e
de memória, redução da capacidade de raciocínio e empobrecimento do
mundo afetivo e psicológico do paciente.
Comovido com a história do juiz, o membro do
coletivo Marcha da Maconha Marco Magri afirmou que cada vez mais pessoas
com idade acima de 45 e 50 anos estão vendo a maconha produzir efeitos
melhores que os seus remédios e tratamentos de câncer.